Geraldo Rufino: o “catador de sonhos”

Empresário, escritor e palestrante, Geraldo Rufino iniciou sua vida de empreendedor aos sete anos, ensacando carvão e já aos oito, catava latas na periferia de São Paulo. Hoje, ele é um exemplo para todos os que querem crescer.

Conheça aqui um pouco de sua vida e ideias nesta entrevista concedida com exclusividade ao Atacadão. 

Quem é Geraldo Rufino?

Nascido em Minas, se mudou para São Paulo ainda muito pequeno. Geraldo tinha absolutamente tudo para dar errado. Morava na paupérrima favela do Sapé, na Zona Oeste da capital paulista, junto ao córrego de mesmo nome.

O pai era alcoólatra e, aos sete anos, ele perdeu a mãe. Mesmo assim, ainda menino, foi à luta, enfrentando todas as adversidades. Iniciou trabalhando em uma fábrica de carvão. Logo em seguida, aos oito anos, começou a catar latinhas e, mais adiante, construiu uma frota de carrinhos de madeira, que alugava para outros meninos fazerem carreto nas feiras.

Aos 14 anos, foi contratado como office-boy do Playcenter (onde trabalhou entre 1972 e 1985) e chegou a ser Gerente de Operações.

História de luta e superação

Em paralelo, com suas economias, Geraldo Rufino havia comprado dois caminhões para os irmãos, que, justamente em 1985, se envolveram em um acidente com perda total. Sem condições para consertá-los, ele resolveu desmontar os caminhões e vender as peças, o que aconteceu de forma muita rápida, fazendo com que ele percebesse que havia um espaço grande nesse mercado.

Nascia então a JR Diesel, hoje a maior empresa de “desmanche” de veículos e maior distribuidora de peças seminovas no país, que fatura cerca de 50 milhões por ano e gera em torno de 180 empregos

Mas tudo foi muito difícil. Ele conta que já faliu seis vezes e que, em vez de considerar essas quedas como algo desesperador, sempre as viu como experiências enriquecedoras.

Além de empresário, Geraldo é um palestrante muito requisitado em todo o país e também é autor de dois best-sellers, livros que já venderam mais de 50 mil exemplares: “O Poder da Positividade” e “O Catador de Sonhos”.

Acompanhe, a seguir, esta entrevista exclusiva.

Geraldo, você teve um início de vida muito duro e hoje comanda uma grande empresa. Você diria que isso é talento nato ou qualquer um pode conseguir? Como isso foi possível?

“Eu acredito que todos nós nascemos com talento. Ele pode ser desenvolvido positiva ou negativamente, dependendo muito da família, do ambiente em que você vive, daquilo em que você acredita, das suas crenças, dos seus exemplos. A partir daí você vai se tornando alguém, que pode ser um empreendedor, um gestor, ou nada.”

“Você pode ter sucesso ou não. O que eu consegui é possível para qualquer um. Eu tive uma base muito sólida com relação a valores, carinho de mãe, fui ensinado a acreditar desde muito cedo. Então, eu acho que todos nós nascemos com dons e possibilidades. Todos nós podemos”, afirma.

Você conseguiria resumir em poucas palavras qual o caminho para o empreendedorismo?

“Eu diria que empreender é ter atitude de ser locomotiva, é você não se preocupar com o peso, não querer ser vagão, não querer ser puxado, não reclamar de estar puxando. Ser um gerador de oportunidades, independentemente de sua condição social, do lugar em que você vive.”

“Empreender é ajudar – você sempre pode ajudar alguém – é contribuir, é assumir responsabilidades. É auxiliar o próximo, é aquilo que você pode fazer pelo outro. Empreender é cuidar de pessoas, é criar, produzir e gerar oportunidades para mais alguém.” 

“Ou seja, o caminho para o empreendedorismo é você querer ser alguém que faz a diferença para impactar a vida dos outros. Empreender é cuidar de pessoas, e isso todos nós podemos fazer. Isso não tem nada a ver com ter uma empresa, um CNPJ. É uma questão de atitude de querer cuidar de pessoas.”

Hoje a JR Diesel é uma das maiores empresas em seu segmento e isso deve ter representado uma grande mudança em sua vida. O que mudou na sua cabeça?

“Você ser referência naquilo que se propõe a fazer é algo que dá muito orgulho. Mas isso não me faz ser diferente do que eu era. Desde cedo eu entendi que tinha que transformar as latinhas que eu catava em algo melhor.”

“E hoje, com a empresa que eu tenho, eu penso apenas que mudou o tamanho da lata, é reciclagem igual, todos os dias eu procuro produzir para o próximo. O tamanho da empresa só aumenta a responsabilidade. Hoje você não pode mais se dar ao luxo de não dar certo. Precisa dar certo! Eu me sinto a mesma pessoa, com gratidão.”

Conte um pouco mais sobre a sua empresa

“A JR Diesel é uma empresa que todos os dias busca inovação. Trabalhamos para mais formalidade, pois nosso segmento ainda tem muitos problemas de informalidade. Ainda tem muito espaço, dá para crescer muito.”

“Nós ainda não exploramos nem 10% do potencial que existe neste país na área de reciclagem automotiva. Estamos plantando uma sementinha para que na hora em que a maioria das pessoas do segmento acordarem para isso, percebam o gigante que poderíamos ser neste país que é fantástico, mas que ainda não aprendeu a explorar a área da reciclagem.”

“Duas coisas, acredito eu, que vão fazer muita diferença no futuro: a reciclagem automotiva e a preparação das pessoas para que elas possam ser melhores.”

Voltando ao assunto do empreendedorismo, que qualidades é preciso ter para empreender?

“Olha, muita gente não consegue empreender porque acha que, sendo independente, vai correr todos os riscos. É um equívoco achar isso. Empreender é muito mais do que ter um CNPJ.”

“Empreender é um comportamento, a pessoa pode começar onde está, inclusive se estiver no serviço público, mudando seu comportamento, começando a cuidar daquilo como se fosse seu, ter procedimentos, dedicação, paixão pelo que está fazendo. Como se aquilo fosse a opção para você subir seu próximo degrau na vida.”

“Ou seja, empreendedorismo é comportamento. E você pode mudar o seu comportamento na hora que quiser, onde você estiver.”

Mas qual o verdadeiro segredo do crescimento?

“É justamente não ter segredos! É o que você pode fazer todos os dias. Eu diria que talvez seja importante todos os dias você entender que está começando. Se você partir do princípio que está zerado, qualquer coisa que conseguir naquele dia é crescimento. Não importa o seu tamanho, nem aonde você chegou, todos os dias você pode subir mais um degrau, se você entender que todos os dias você tem a oportunidade de um recomeço.”

E onde entra o cliente nessa história? 

“Eu costumo dizer que o cliente é parte. Ele é uma extensão do que você vem construindo na sua vida, desde a família, os seus relacionamentos, os amigos e no lugar em que você trabalha. Lá você vai dar de cara com alguém que chamam de cliente e que eu chamo de pessoa. São outras pessoas que vieram trazer oportunidades.”

“Se você souber transmitir a ela a mesma energia e conquistá-la como você conquistou na sua casa, os seus e os seus colegas de trabalho, com sorrisos, com carinho e comprometimento, você terá muito mais do que ter um cliente. Você terá uma pessoa ao seu lado.”

E o futuro?

“Olha, todos os dias eu dou um passo em direção ao futuro. Mas você não pode fazer isso sozinho. Você precisa de um time. E não só do artilheiro, mas do gandula também. Ou seja, se você quer um futuro melhor, é preciso montar um time, fortalecer as pessoas, criar seres que acreditem mais em si mesmos, empreendedores dentro do seu CNPJ.”

“A síntese é carinho com disciplina e todos os dias reiniciar para ter um dia melhor do que o anterior. O futuro começa todos os dias na primeira hora do dia. Feito de tijolo em tijolo. Com isso, seu edifício vai ficar de um tamanho que não será qualquer vento que irá abalar.”

E o Brasil? O Brasil tem jeito?

“Eu vejo o meu país da mesma forma que eu via há 50 anos: o Brasil é o melhor lugar do mundo! Eu sou patriota de sangue verde e amarelo, sou apaixonado por este país. Temos tudo aqui! Não temos desastres naturais, temos água doce, terras produtivas, florestas, minérios…um país completo!”

“Temos tudo o que se precisa. E acima de tudo, temos nós, brasileiros, pessoas felizes, do bem. A hora em que acreditarmos mais em nós, formos mais patriotas e entendermos que quem pode melhorar esse país somos nós, de dentro pra fora, aí teremos o país do futuro.”

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