Ricardo Amorim: “nossa vida vai mudar completamente”

23/08/2021

11min

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Considerado um dos nomes mais influentes na análise da economia brasileira hoje, o multimídia e premiado Ricardo Amorim é também um especialista quando o assunto é tecnologia e inovação. Conheça aqui suas opiniões sobre o momento que estamos vivendo nesta entrevista exclusiva concedida ao Atacadão.

Economista formado pela USP, com pós-graduação em Paris, apresentador de televisão no conhecido programa Manhattan Connection, o empreendedor, articulista e palestrante Ricardo Amorim dirige sua consultoria Ricam e foi eleito em 2015, pela Revista Forbes, como uma das “100 pessoas mais influentes do Brasil”. 

Dono de uma linguagem direta e coloquial que foge do “economês”, ele é autor do best-seller “Depois da Tempestade” e, sem dúvida, uma das vozes mais qualificadas e bem informadas no Brasil quando o assunto é economia, principalmente no que diz respeito à antecipação de tendências.

Confira a entrevista que ele concedeu ao Atacadão, onde propõe análises e traça uma projeção bem positiva sobre como sairemos da pandemia trazida pelo Coronavírus.

 

Estamos vivendo um momento atípico na economia brasileira. Qual a avaliação que você faz dos reflexos disso? Quão grande será a queda no PIB, por exemplo? Qual o tamanho dessa crise?

“O passado sempre nos ajuda a ter uma perspectiva em relação ao que estamos vivendo hoje. Quando comparamos a provável queda do PIB brasileiro neste ano, em torno de 6%, com o que temos de dados no Brasil, a gente descobre que nunca tivemos em um único ano uma contração desse tamanho. É algo que acontece uma vez por século e, portanto, gigantesco.”

“E isso mesmo com os grandes estímulos que aconteceram por parte do governo, tanto do lado fiscal como monetário. Nunca se gastou tanto para estimular a economia, nem houve uma redução de juros tão brutal, com a taxa Selic a 2% ao ano! Agora, o importante é sabermos o que vem daqui para a frente.”

“A queda seria muito pior se não fossem esses estímulos, como os R$ 600,00 mensais, por exemplo, que 80% dos brasileiros receberam. Mas isso custa muito caro, a gente não tem como manter por muito tempo. Quando acabar, é provável que a economia puxe novamente um pouquinho para baixo. Mas aí, depois, gradualmente, teremos uma volta de confiança, volta de consumo e, principalmente – com juros mais baixos –, novas linhas de crédito, porque os bancos vão estar mais seguros em emprestar.”

“Esse aumento do crédito vai apoiar aumento de investimentos das empresas, mais contratações, mais consumo e, por consequência, uma recuperação sustentada e, provavelmente, muito forte nos próximos anos”, afirma.

Mas existe o risco de aumento de preços? Ou inflação?

“Os riscos de aumento significativo de preços no curto prazo são baixíssimos. Simplesmente porque com uma demanda tão reprimida, fica muito complicado para as empresas – mesmo as que têm tido aumento de custos – repassar esse aumento para os preços, porque as pessoas não vão ter como pagar.”

“Pode acontecer aumentos pontuais, mas o risco de inflação generalizada no curto prazo beira a zero. Por outro lado, se considerarmos períodos mais longos, a partir do segundo semestre do ano que vem ou anos seguintes, aí sim temos algum risco, porque o estímulo colocado na economia foi grande e é provável que tenhamos uma recuperação econômica muito forte.”

O que você recomendaria agora para empresas de comércio e serviços?

“Empresas de comércio e serviços estão entre as que foram mais desafiadas por esta pandemia. Várias tiveram que fechar do dia para a noite e, ao contrário de vários negócios que funcionam com mais facilidade trabalhando de casa, várias delas foram atingidas. A única maneira de lidar com isso é buscar outras formas de chegar até o cliente. O que aconteceu foi um aquecimento grande nas vendas por meio digital e outras ideias bem criativas, como acordos entre lojas ou lojas montadas em condomínios para chegarem mais perto das pessoas.”

“O que é uma verdade sempre é pensar na conveniência do consumidor, ou seja, como fazer o melhor para que as pessoas encontrem o que querem da forma mais simples. Neste momento, o digital foi fundamental para fazer isso acontecer, mas ele não é a única alternativa; há outras que precisam ser consideradas e levadas a sério”, explica.

Enfatizando um pouco, como e quando você acha que será a retomada plena dos negócios?

“O principal fator para a retomada plena dos negócios é a retomada da confiança. Em condições normais, seria a confiança na economia. Desta vez, entretanto, tem um fator adicional que é a confiança na saúde. É muito difícil imaginar uma retomada de consumo, ou que as pessoas deixem de se preocupar com o risco de desemprego, se ainda estiverem preocupadas com o risco de morte. Isso significa que o fator provável que será o da virada, ou de uma retomada sustentável, é uma vacina.”

“Em algum tempo teremos uma vacina confiável e em larga escala. E quando isso acontecer do lado da saúde, provavelmente será o estopim do início gradual de uma recuperação da confiança na economia. E na medida em que isso se reforçar, entraremos em um círculo virtuoso. Os bancos começam a emprestar mais, as pessoas se sentem seguras em gastar mais. Com mais vendas, as empresas contratam e esse ciclo pode ser forte e longo, porque estamos saindo de um nível inicial muito deprimido – somado ao que já tivemos entre 2014 e 2017 – e isso cria condições de uma retomada mais duradoura.”

*OBS: a entrevista foi concedida antes do início do processo de vacinação no Brasil.

E a partir daí tudo voltará ao normal?

“Criou-se a expectativa de um novo normal após a pandemia. A ideia é a de que tínhamos uma situação antes, a pandemia mudou tudo temporariamente e depois teremos um novo equilíbrio, diferente do anterior, mas equilíbrio.”

“Eu acredito que o que está acontecendo é diferente. Eu chamo de “a grande aceleração”. Já estavam acontecendo grandes mudanças demográficas, sociais, tecnológicas, de modelo de negócios… A pandemia acelerou essas mudanças e o que teremos depois é mais aceleração ainda. Alguns exemplos: se a gente pegar a transformação digital, e-commerce, delivery, plataformas de videoconferência, home office… Nada disso é novidade. Foi novidade o ritmo que elas assumiram durante a pandemia.”

“Essa aceleração, essa experiência de muita gente, durante muito tempo, fazendo coisas novas, vai fazer com que essas coisas passem a ser usadas em um ritmo muito mais rápido depois. Moral da história: espere algo novo, mas não espere uma estabilidade, e sim uma constante transformação. E mais rápida. Essa é a grande aceleração para a qual todos nós, nas nossas vidas e em nossos negócios, precisamos nos preparar.”

A propósito, como está o cenário da inovação tecnológica no Brasil?

“O Brasil e o mundo já vinham passando, antes da pandemia, por um processo acelerado de transformação tecnológica. Só que no caso brasileiro um dos componentes fundamentais teve uma mudança importante, causada pela pandemia, que irá acelerá-lo: a queda da taxa de juros.”

“O que gera inovação, basicamente, são três fatores: primeiro, a geração de ideias novas (hoje muito facilitada pela internet, que conecta 5 bilhões de pessoas no mundo), depois, a implementação (no que ajudam as tecnologias de base e nuvem, que permitem a qualquer empresa pequena o acesso a essas tecnologias por um preço muito baixo), e o terceiro fator, que é uma taxa de juros próxima de zero, o que faz com que as empresas tenham mais acesso ao financiamento de novas tecnologias, como automação”, explica.

“Quando os investidores têm rentabilidade baixa na renda fixa, eles buscam novas alternativas como investir em novas ideias, para melhor remunerar seu capital. E mesmo na crise, este investimento está agora batendo recordes. Ou seja, quem tem ideias e tem tecnologia agora também tem dinheiro para fazer isso acontecer. A gente vai ver uma aceleração brutal da inovação no Brasil nos próximos anos. E é bom estarmos preparados, porque a forma como a gente vive e trabalha no Brasil vai mudar completamente. 

Para finalizar, uma pergunta que sempre fazemos: o Brasil tem jeito?

“O Brasil tem jeito, sim, sem dúvida nenhuma! E o jeito do Brasil somos nós. É a sociedade que vai dar jeito no Brasil. O Brasil terá um futuro se nós construirmos o futuro que o Brasil pode, merece e precisa ter. Agora, isso não vai acontecer sozinho. É a sociedade como um todo, cada um de nós, individualmente, fazendo a nossa parte — sob todos os aspectos — para que possamos ser o país que a gente pode ser. O jeito somos nós!”, completa.

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