Sônia Hess: “É preciso gostar das pessoas, para empreender”

18/02/2022

11min

abastecimento do estoque

Catarinense, sexta filha em uma família de 16 irmãos, Sônia é ex-presidente da indústria de camisas Dudalina (cujo nome vem de seus pais Duda e Adelina) e atualmente é a vice-presidente do Grupo Mulheres do Brasil, que trabalha pelo empoderamento feminino.

Nascida em Luís Alves, em Santa Catarina, filha do seu Duda (“um poeta”) e dona Adelina (“a grande empreendedora da família”), Sônia começou a trabalhar muito cedo, nas empresas de seus familiares e, conta: “aos 9 anos eu já era a melhor vendedora da loja”.

Na verdade, os pais tinham um pequeno comércio que vendia desde roupas até cereais a granel. Em 1957, por um “equívoco de logística” do seu Duda, pois ele era o encarregado pelo abastecimento do estoque. Acabou voltando de São Paulo, com uma quantidade excessiva de tecido e devido ao ocorrido, a saída encontrada por Dona Adelina, para não ficar no prejuízo, foi transformar  o excesso em camisas masculinas.

Decidiram então, contratar algumas costureiras e assim, montaram uma pequena confecção, a Dudalina, que mais tarde se tornaria uma grande empresa no setor de roupas de alto padrão e moda do Brasil. Chegando a ter mais de 100 lojas no país todo, trazendo diversas tendências mundiais. 

A vida profissional de Sônia 

Após se especializar na Espanha, Sônia regressou ao Brasil para trabalhar no marketing da empresa, em um escritório. Em 2003, assumiu a presidência e foi responsável por um crescimento anual de 30% da marca nos anos seguintes. Em 2010, “realizando um grande sonho”, lançou uma linha de camisas femininas “para mulheres que decidem”. 

Já em 2011, a Dudalina chega ao varejo, alcançando cerca de 70 lojas no ano seguinte. A frota financeira da loja foi evoluindo cada vez mais. Até que, finalmente em 2013, cumprindo uma promessa que fizera à mãe, (garantir um futuro tranquilo para a família e a união dos irmãos), ela consegue a aprovação da maioria deles e a empresa é, então, vendida para dois fundos americanos. Em  2014, é feita uma fusão com o grupo Restoque e Sônia fica na presidência até 2015, quando sai para dedicar-se ao chamado terceiro setor. 

Com o empreendedorismo na veia e a vontade de fazer acontecer, Sônia assume um protagonismo, como vice-presidente do Grupo Mulheres do Brasil. Este, foi criado em 2013, como já foi citado e, tem como presidente a Luiza Helena Trajado, do Magazine Luiza, para ela, “um exemplo de cidadã e a maior brasileira que existe!”. 

Além disto, Sônia é muito ativa e tem uma participação extremamente importante como conselheira em várias entidades. Se tornou mentora do programa Winning Women Brasil, da EY; conselheira da Endeavor; mentora do Instituto Ayrton Senna; membro do Conselho Curador da Fundação Dom Cabral; conselheira do MASP, dos Amigos do Bem, Verdescola e do grupo Sequóia Logística. Além de consultora da Warburg Pincus do Brasil.  

A seguir, acompanhe, a entrevista concedida por Sônia com exclusividade para o Brasil Atacadão 

Sônia, de onde vem toda essa força empreendedora?

Sem dúvida vem de minha mãe, Dona Adelina. A primeira venda que ela comprou era dos meus avós. Quando ela estava no quarto ano do ensino fundamental, falou para os pais que queria trabalhar em troca de 4% das vendas. Minha mãe não aceitava não como resposta. Quando eu era pequena, ela saía para vender as camisas, em um caminhão aberto, com uma lona em cima, levava um filho e um lanche e saía pelo interior para vendê-las. 

Lembro de uma vez em que fui com ela, que, claro, estava grávida. Havia começado a escurecer e estávamos na cidade Doutor Pedrinho. O dono da venda não chegava, eu estava cansada e tínhamos 2h de estrada de terra ainda para poder finalmente chegar em casa. Apesar disso tudo, ela virou para mim e falou: “Filha, esperarei o dono da venda chegar e só vou embora quando vender as camisas”.

O que é ser uma mulher empreendedora? 

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Eu não cheguei a elaborar um levantamento mais técnico, mas tenho a nítida sensação de que a maioria das empresas do mundo, começaram por uma mulher. Temos em nós a força da maternidade, uma visão agregadora, de família. Inclusive gosto de lembrar que as mulheres são cerca de 50% da população, porém, somos mães dos outros 50%. 

Então, se for produzir bolos, se tornar cabeleireira ou ser comerciante, a mulher irá cuidar como se fosse um filho, querido. O mundo feminino é magnífico! Junto ao universo masculino, ambos podem se completar, tranquilamente. Quando isso acontece, tudo fica muito melhor. 

No entanto, é necessário ter a consciência de que ser empreendedora é uma tarefa muito difícil. Os resultados costumam demorar, é fundamental a doação de 24 horas do seu tempo, e também algo imprescindível para este ramo: é preciso gostar de gente! 

Na Dudalina, onde chegamos a ter 2.700 colaboradores (85% dos quais mulheres), eu tratava rigorosamente todos igualmente. São as pessoas que fazem uma empresa acontecer. Então, ser empreendedora é complexo, mas também é maravilhoso. Coragem é uma característica necessária neste meio, ela precisa ser maior que os meus medos.  

O  que é o Grupo de Mulheres do Brasil, em que você é vice-presidente? 

 Começamos, em 2013, com apenas 40 mulheres convocadas pela Luiza Trajano, para uma reunião em Brasília. O bacana é que ela não convidou CNPJs, ela convidou CPFs, tinha mulheres de Paraisópolis, de todo o lugar, mulheres muito inspiradoras.

Tudo foi acontecendo e crescendo repentinamente, tanto que hoje já somos mais de 72 mil mulheres, não apenas no Brasil, onde já temos 80 núcleos, mas em mais 30 cidades fora do Brasil. O objetivo principal é trazer as mulheres brasileiras para o protagonismo, especificamente para o palco, como digo.

Como as mulheres podem participar?

Garanto ser bem simples, basta entrar no site http://www.grupomulheresdobrasil.org.br e se cadastrar. Cada mulher conta! Queremos ser uma colcha gigante de acolhimento.

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“Não queremos inventar a roda, mas sim apoiar projetos que já existem, lutando para que nossa voz ecoe.” 

De uma forma geral, quais são as bandeiras que vocês defendem? 

Queremos ser o maior grupo político suprapartidário do país. A nossa maior bandeira é a do Brasil. Não somos contra os homens, somos a favor das mulheres. Trabalhamos em combate a violência contra a mulher, é um absurdo sabermos que ainda ocorre um feminicídio no país, a cada duas horas. 

Defendemos a diversidade e a igualdade de oportunidades entre gêneros e raças. Desejamos melhorar o sistema de saúde no país, direito de todos e obrigação do Estado, afinal a tributação existe para torná-lo capaz de cumprir com seus deveres perante as leis. Somos um grupo de mulheres voluntárias a serviço da mulher no Brasil. 

Não queremos inventar a roda, mas sim apoiar projetos que já existem, trabalhando por causas políticas, sociais e econômicas justas, e lutando para que nossa voz ecoe em todos os espaços de poder. Todas as mulheres brasileiras podem participar e ser protagonistas das transformações que o Brasil precisa.

Você poderia citar algumas das ações pontuais e específicas desenvolvidas pelo Grupo Mulheres do Brasil? 

São várias! Todas as mulheres do grupo estão conectadas por uma workplace, sendo uma espécie de rede social interna, e isso proporciona que todas estejam sendo informadas e assim, participarem ativamente das ações e decisões. 

Como eu já havia dito, temos os núcleos, além de uma diretoria estatutária e uma executiva, que fica em nossa sede em São Paulo. Atuamos através de vários comitês, como o de Sustentabilidade, Mundo Digital, Esporte, Agronegócio, Saúde, Educação, Meninas do Brasil, 60+ e Empreendorismo, entre outros. 

Agimos também politicamente, como no forte trabalho em defesa do Marco Regulatório do Saneamento no Brasil, por exemplo. Desenvolvemos projetos específicos, como o grupo de apoio emocional que criamos neste ano, em função da Covid, para prestar assistência psicológica às mulheres. 

Produzimos também, neste ano, um e-commerce chamado Terra Artesã, cujo foco é auxiliar artesãs do Ceará a venderem seus produtos. Em junho deste ano, lançamos o Fundo ‘Dona de Mim’, para atender mulheres empreendedoras de baixa renda que não têm acesso a crédito.

Esse fundo foi formado a partir da doação feita por 62 mulheres, e não apenas concedemos empréstimos às 335 mulheres MEI e 150 para as que vivem em comunidade. Cada uma delas foi acolhida por uma das 62, para receber o apoio necessário. 

Agora, numa nova fase, teremos empréstimos de até R$3 mil, a serem concedidos pelo BTG Pactual a mais de mil mulheres. O mais importante, sem dúvidas, é que todas elas receberão capacitação para orientá-las sobre a melhor forma de usar os recursos. Enfim, somos mulheres a serviço do Brasil.

Para finalizar, uma pergunta que costumamos fazer  a todos os nossos entrevistados: O Brasil tem jeito? 

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Claro! O Brasil tem jeito, sim! O Brasil é nosso! Aqui, plantando tudo dá! Entretanto,  o importante é que nós todos, como sociedade civil, nos movimentemos na direção de constituir um Brasil cada vez melhor, com leveza e conhecimento, aprendendo com as experiências de cada um. Temos que nos unir! Amo o Brasil! Finalize sua entrevista para o Atacadão

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