Brasileiros do centro oeste: gente que faz

12/06/2023

13min

a regiao centro oeste e suas caracteristicas

A região Centro-Oeste é formada por três estados, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e mais o Distrito Federal, onde fica Brasília, a capital do país. O mais antigo deles é Goiás, criado em 1744, após sua área ter sido desmembrada de São Paulo, então a maior capitania hereditária do país.

Pouco depois veio o Mato Grosso, em 1748. Muitos anos mais tarde, em 1960, com a fundação de Brasília, nasce o Distrito Federal. Só mais recentemente, em outubro de 1977, hoje a caminho de comemorar seu cinquentenário, surge o estado do Mato Grosso do Sul, a partir da separação de sua área do Mato Grosso.

Essas datas são importantes para que melhor se possa entender como se deu a formação da população do Centro-Oeste brasileiro. É óbvio, por exemplo, que os três estados foram inicialmente ocupados pelas tribos indígenas.

Ainda naquela época, chegaram os bandeirantes portugueses, atraídos pelo ouro e riquezas da região. Em 1719 eles fundaram o Arraial da Forquilha, às margens do rio Coxipó, formando o primeiro grupo de população organizado na região (atual cidade de Cuiabá). Logo chegaram os fazendeiros de São Paulo e Minas Gerais para povoar a região com grandes fazendas de criação de gado.

Ou seja, iniciava-se ali, nos séculos XVIII e XIX, o povoamento da região, com a miscigenação entre os povos indígenas historicamente residentes, os bandeirantes portugueses, os negros e os migrantes paulistas e mineiros.

Depois, bem mais tarde, na década de 1940, com a “Marcha para o Oeste”, promovida por Getúlio Vargas, chegaria também à região uma grande leva de paranaenses, que se estabeleceram nas áreas centrais e mais ao Sul, onde hoje fica a cidade de Dourados (MS). Um pouco depois, nos idos de 1950, a construção de Brasília provocaria nova chegada de novos e muitos migrantes, vindos principalmente do Nordeste, em busca de trabalho.

Finalmente, já anos de 1980, essa “composição” da população do Centro-Oeste brasileiro seria complementada com um grande fluxo de gaúchos (e também catarinenses e paranaenses), vindos do Sul em busca da atividade agrícola, motivados pelas condições de colonização então oferecidas e pela grande fertilidade da terra, passando a se dedicar à produção de cereais, principalmente soja, sobretudo no Mato Grosso do Sul.

Ou seja, a formação do povo do Centro-Oeste é múltipla e bem brasileira. Nasceu com os índios, nossos ancestrais, depois recebeu os portugueses, nossos colonizadores e finalmente cresceu a partir da influência de migrantes de todas as regiões do país, que foram seus impulsionadores.

Outra questão interessante é que, com o tempo, e em função da diversidade das características geográficas diversas da grande região para os tipos humanos que habitam o Centro-Oeste. Assim, hoje temos o vaqueiro pantaneiro, o boiadeiro goiano, e mais recentemente os candangos. Termo pelo qual ficaram conhecidos os operários que vieram trabalhar na obra de construção de Brasília. 

A vida empreendedora de Mauri Gondin

Enfim, trata-se o Centro-Oeste de uma região tipicamente brasileira. Onde vive, trabalha um povo lutador e empreendedor. Como é o caso do goiano Mauri Gondin, 55 anos, nascido em Itauçu e que diz que o goiano “não se aperreia com pouco”.

Aliás, diz brincando, entre risos, que “o goiano é um mineiro melhorado”. Ressalta que o candango é mais nordestino e que os mato-grossenses têm muita influência sulista. No entanto, destaca a hospitalidade de todos, o gosto pelas festas e pelos bons pratos. 

Mauri conta que veio “da roça”, filho de pais mineiros de Araguari, e que em 1990 abriu uma transportadora. Até que em 2016, movido pelo espírito empreendedor e “por gostar de cozinhar”, resolveu abrir um restaurante, o “Casarão”, em Nerópolis (GO), especializado em comida típica local, como arroz com pequi, galinhada, quiabo e outros quitutes.

A ideia deu certo e logo ele abriu uma filial em Cezarina, outra cidade da região metropolitana de Goiânia. Hoje, satisfeito – e ainda mantendo a atividade de transportador –, ele conta que chega a servir até 400 refeições em um final de semana.

A história de vida de Neiva Rosa Faccin

“Integrante” do grupo de “desbravadores gaúchos”, Neiva Rosa Faccin chegou a Dourados, no Mato Grosso do Sul, aos 17 anos, com a irmã, vinda do pequeno município de Frederico Westphalen (RS). Durante os últimos 32 anos atuou em uma empresa na área de recursos humanos e contabilidade, o que não impediu que, há 25 anos, ela tivesse aberto uma padaria, que delegou à irmã para cuidar. 

Ela conta: “Tive a ideia no ônibus, indo para a faculdade. Aí uma amiga sugeriu que eu abrisse a padaria no bairro Parque Alvorada, porque lá estava se instalando a Universidade. Me chamaram de  louca: na época havia uma casa e dez terrenos vazios. Incrivelmente deu certo! O bairro ‘explodiu’ e a padaria cresceu junto.  Hoje, a Pão Bom é um complexo muito conceituado na cidade, com padaria, pizzaria e restaurante, bem conhecida, administrada pelas minhas quatro filhas”. 

“Uma gente muito tranquila, receptiva, que adora música sertaneja e uma boa carne”.

Contando que se apaixonou por Dourados e fez dela a sua segunda terra, Neiva fala em nome do povo mato-grossense do Sul para dizer que se trata de “uma gente muito tranquila, alegre, divertida, receptiva, que gosta de um tererê. Adora uma música sertaneja e é um povo carnívoro (risos), que não dispensa uma carne”.

Maria da Graça Silva Yoda, a  paulista de Brasília  

Outra história inspiradora vem de Brasília. Pernambucana, Maria da Graça Silva Yoda passou a infância e adolescência em São Paulo, e em janeiro de 1975, há 47 anos, chegou a Brasília, recém-casada, acompanhando o marido que havia ingressado no Banco Central. 

Ela conta que no início trabalhou em uma madeireira e que dois anos depois, começou também a trabalhar no Banco Central. “Contudo eu queria mesmo é ter um negócio. Sonhava em ter uma pastelaria e acabei montando uma com dez tipos de pastéis e dez sucos, o que não havia por aqui na época”, conta sorrindo. 

Depois, montou uma confeitaria, também pioneira; fabricou bolos e suspiros para venda em supermercados e há 20 anos abriu um buffet. “Aqui concretizei minha vida, diz, tive três filhos, quatro netos”, diz, orgulhosa, aos 69 anos. 

Entretanto, o grande diferencial desta história chama-se “Quintal da Dona Graça”. Ela lembra que, há alguns anos, aproveitando o grande espaço da área de sua casa, realizou festas juninas beneficentes: “A gente vendia convites para arrecadar fundos e quando vimos a festa já tinha umas duas mil pessoas”, conta entusiasmada. 

Daí veio a ideia e surgiu o famoso Quintal, hoje se tornou um grande espaço temático que abre do início de junho ao final de agosto, sextas, sábados, domingos e feriados, promove festas juninas incríveis. 

Graça conta, entusiasmada: “Ah, aqui temos de tudo, casa da roça – com fogão a lenha e canjica no fogo – barracas com muita comida típica, restaurante; tudo decorado com motivos juninos, uma verdadeira cidade cenográfica”. 

Ela diz que deu tudo tão certo que, antes da pandemia, praticamente todas as datas eram ocupadas por empresas que lá promoviam festas juninas para os seus funcionários: “Mas agora estamos retomando, obviamente que com todos os cuidados necessários exigidos no combate à pandemia”. Quanto ao povo de Brasília, ela afirma: “Ah, é um povo que gosta do que é bom, que vive em uma cidade cosmopolita, mas mantém suas origens e tradições. O Quintal da Graça é um grande exemplo disso”. 

O empreendedor José de Galvão Ataíde

Falando na gente do Centro-Oeste, outro que pode falar com propriedade é José de Galvão Ataíde, 52 anos. Ele nasceu em Aragarças (GO), bem na divisa com o Mato Grosso e depois de uma vida profissional de 12 anos trabalhando na área de supermercados (que incluiu uma passagem pelo próprio Atacadão, como vendedor). 

Ele por sua vez, há seis anos, abriu, na cidade de Água Boa (MT) o Super Galvão, hoje já com três lojas. Dizendo que gosta muito da cidade, “com apenas 26 mil habitantes, mas planejada, com ruas e avenidas bonitas”. Galvão concorda que o povo do Centro-Oeste seja acolhedor e destaca duas outras qualidades: “É uma gente muito participativa e que gosta muito das coisas certas”.

Comprometimento é com Rogério Dantes

Honestidade, aliás, é também um dos atributos que Rogério Dantes, 42 anos, observa no povo da região. Nascido em Goiânia (GO) e após trabalhar por 16 anos em uma grande cervejaria nacional, ele, há seis, em 2015, mudou-se para o Mato Grosso. Onde, em Barra do Garças, em um pequeno espaço de 40m2, montou uma franquia da marca Bolos do Sítio: “Tive a coragem de começar de novo, renunciar à minha carreira na empresa e encarar os desafios do negócio próprio”. 

Ele conta que o povo da região, além de honesto, é calmo, pacato, educado e parceiro, que reconhece o trabalho de quem trabalha sério e reinveste no seu negócio, um povo que valoriza o empreendedorismo.

“Desde que estou aqui no Mato Grosso sempre tive muito apoio de todos”. Tanto que hoje a pequena franquia virou um empório grande com padaria, sorveteria, lanchonete e uma confeitaria de ponta, sempre focando muito em manter a qualidade. “Deu tanto certo, que já abrimos outra loja, agora em Aragarças (GO)”.

A trajetória da maranhense Marimar Barbosa da Silva

Enfim, basta observar o número de estados envolvidos nesta reportagem para chegar à conclusão de que o povo do Centro-Oeste é, “primeiro, muito acolhedor”, como diz a maranhense Marimar Barbosa da Silva. Há 31 anos abriu em São Paulo a S & S (“um negócio de cestas básicas vendidas de porta em porta”) com o marido, Cláudio. 

Há sete anos, está buscando melhor qualidade de vida e um mercado melhor, se mudou para Campo Grande (MS), onde a empresa, agora com o trabalho também dos dois filhos, “segue de vento em popa”.

Cidades importantes apesar da baixa densidade populacional

Com uma extensão territorial de pouco mais do que 1,6 milhões de km2, a região Centro-Oeste é, entre as cinco do país, aquela que tem a menor população (16,5 milhões de habitantes, segundo o IBGE, com dados de 2020). Em função disso, também a menor densidade populacional, com apenas 8,75 habitantes/km2

A maior população está em Goiás (com 7,1 milhões de habitantes), seguido do Mato Grosso, onde moram 3,5 milhões de pessoas. Como seria de se esperar, o Distrito Federal é a área na região com maior densidade demográfica, abrigando 444 habitantes por km2

Os municípios mais populosos, além das quatro capitais (Brasília, Goiânia, Campo Grande e Cuiabá), são Aparecida de Goiânia (GO), Anápolis (GO) e Várzea Grande (MT).  O Centro-Oeste manteve seu PIB em 2020.

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