Consumo 4.0: o que vem por aí?

08/08/2022

7min

Indústria 4.0

Há muito que se lê e se ouve falar que “estamos vivendo tempos de profundas transformações”. Foi assim quando se escreveu sobre a Primeira Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII.

Os cem anos seguintes foram, também, de transformação em diversos setores: da agricultura ao comércio; dos transportes às comunicações e até mesmo nos modelos de produção.

Entre 1870 e 1930, a Segunda Revolução Industrial nos trouxe novas tecnologias. O rádio, a televisão, o telefone, a aviação e a iluminação elétrica foram alguns “inventos” que aceleraram os transportes e as comunicações, tornando o mundo um lugar menor. O petróleo também entrou em cena.

Por volta de 1950 temos o início da Terceira Revolução Industrial. A Teoria da Informação, a computação digital e a onda verde trouxeram significativos avanços.

Da mesma maneira que as revoluções anteriores foram de ruptura e evolução, pode-se dizer, com algum tom de certeza, que a Terceira Revolução Industrial não ocorreu por causa das tecnologias digitais, mas a partir das mudanças que elas promoveram no ambiente econômico e no comportamento humano.

Já estamos vivendo a chamada “Quarta Revolução Industrial”

Vive-se hoje, em algumas partes do globo, o que se denomina de Quarta Revolução Industrial. Não temos nessa revolução um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital.

Pode-se inferir que a Quarta Revolução Industrial, também chamada de Indústria 4.0, está sendo talhada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.

Mudança de cenário: da inovação ao isolamento

Apesar de todas essas afirmações e inovações sobre matriz energética, questões de sustentabilidade, debates éticos e disputas políticas, um vírus adentra no planeta Terra e faz com que o Homo Sapiens retorne para seus casulos.

Numa mistura de Paleolítico com Neolítico, o Homem 4.0 se vê isolado em sua casa, nas cavernas, e sem a possibilidade de andar pelo planeta. A saúde sofre. A economia desacelera. Os aprendizados escritos e absorvidos parecem não ter muito sentido. A pandemia está vencendo.

A incerteza quanto à cura pela contaminação através do coronavírus promoveu uma série de mudanças em diversos setores. No consumo não foi diferente. A onda do “marketing de experiência”, por exemplo, precisou ser repensada.

Uma nova era de consumo

Uma série de consequências deste momento difícil emergiu em diversos setores. Todavia, o nosso foco é o Varejo 4.0. E o varejo, em meio a um PIB que recuou algo em torno de 4%, experimentou, no ano de 2020, um crescimento real (deflacionado pelo IPCA) de 9,36% em comparação com 2019.

E não foi pelo fato de “estar aberto” que o setor de supermercados atingiu esse índice. Grande parte da população voltou a consumir no varejo da sua rua, do seu bairro. As relações locais se fortaleceram. Mas só “a conta no caderninho” não irá sustentar o setor, na medida em que sairmos destes tempos de anormalidade. 

Algumas mudanças trouxeram o mundo 4.0 para o presente

Omnichannel

Como tendência irreversível está a digitalização dos processos que levará as empresas a se tornarem OMNICHANNEL.

Omnichannel é uma estratégia de uso simultâneo e interligado de diferentes canais de comunicação com o objetivo de acabar com a separação entre online e offline, aprimorando, assim, a experiência do cliente. Essa tendência do varejo permite a convergência do virtual e do físico.

Experiência do usuário cada vez mais humanizada

A proximidade e o afeto nas relações de consumo se tornaram fundamentais, até porque as compras passaram a ser feitas em locais próximos de casa, que proporcionam experiências de cordialidade e acolhimento.

A “freguesia” retornará com ares humanos, inobstante a digitalização.

Consumo ético

Fato marcante também será a reinvenção da cadeia produtiva. E, neste contexto, haverá que se respeitar o ciclo da natureza, pois o “consumo ético” será cada vez mais presente e valorizado pelos “fregueses”.

Compras customizadas

Outro fator é a pressão sobre os preços e descontos que serão demandados. É inegável que estamos vivendo um momento em que a liquidez de uma parcela significativa da população se reduziu. A sabedoria em compor mix atrativos, entendendo o perfil de seus compradores, terá de conversar com as diversas plataformas de vendas.

 

O medo ainda será uma constante, ao menos nos próximos três anos. Isso abrirá a oportunidade para as entregas programadas nas casas dos consumidores.

 

Tal movimento de compra customizada recorrente poderá ser sincronizado com a cadeia produtiva, mas a dona Sofia seguirá indo à padaria do mercado. Seguirá comprando a carne e os legumes manuseando-os. Ela saberá ser digital. Estará vacinada pela quinta versão da vacina e o varejo seguirá sendo um porto seguro.

 

As mudanças seguirão acontecendo. Talvez até mesmo novas pandemias. Uma revolução 5.0? Sabe-se lá. Mas o que eu não tenho dúvida é que os supermercados, por mais que se fale no e-commerce, seguirão firmes, sendo um ponto de encontro entre vizinhos e sabores. Afinal, pelo wi-fi ainda não podemos sentir o frescor das frutas e verduras.

 

SÍLVIO TEITELBAUM é graduado em Administração de Empresas, e tem Mestrado com ênfase em Organizações, pelo PPGA-UFRGS. É professor, consultor e conselheiro de empresas e CEO da Fundação Escola Superior do Ministério Público (RS).

 

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